Novembro/2016 – Polarização Ideológica

Introdução

O tema do mês de Novembro/2016 no Projeto ConheSeremos é Polarização Ideológica. Em mês de eleições presidenciais americanas e tendo presenciado no curto passado eventos como Brexit (saída do Reino Unido da União Européia), a escolha pelo não acordo de paz com as FARC na Colômbia e as próprias eleições presidenciais brasileiras em 2014, o tema vem a calhar não nos resultados destes eventos, mas sim, em como observamos populações altamente divididas em suas posições.

No Reino Unido, 51,9% decidiram pela saída da União Europeia contra 48,1% dos votos.
Na Colômbia, 50,2% negando um acordo de paz contra 49,7% dos votos
No Brasil, 51,64% elegendo uma presidente contra 48,63% dos votos.
Agora, nos Estados Unidos, um empate técnico entre Hillary Clinton e Donald Trump.

Estes “empates técnicos” só revelam uma faceta de um tema muito complicado, mas de necessária discussão por serem a expressão de uma realidade que nos afeta diretamente.
Votos divididos pela idade, por grau de educação, classe social e geografia. Os jovens culpam os mais velhos, os educados culpam os analfabetos. O aumento dos níveis de xenofobia e racismo, políticas de medo e ódio impulsionados por mentiras e desconfianças políticas. Um aumento significativo do conservadorismo em uma sociedade que, cada vez mais polarizada, torna-se menos tolerante às diferenças sociais.

Como chegamos a este ponto?
Qual nosso dever?

Leituras

TEXTO GENTILMENTE ESCRITO POR LUIS ESPINOZA

Não é culpa de ninguém! É preciso ser franco e realista!

O mundo sempre foi polarizado, sempre teve fronteiras (conhecidas ou não) e sempre (ceteris paribus) terá disputa de interesses. Essas barreiras um tanto quanto invisíveis, outras vezes mais aparentes, existem tanto dentro quanto fora daquele vós fala quanto, em menor ou maior grau, naquele que me lê. Que mal há nisso?

Vivemos em tempos onde certos avanços tecnológicos acentuam algumas contradições do sistema econômico vigente. Se estudarmos todas as tecnologias e ciências aplicadas no desenvolvimento de um celular e seus aplicativos talvez nos assustemos com o fato de termos 14% do mundo analfabeto, 781 milhões de pessoas em 2015 sem acesso a educação básica. O tanto que se gasta em pesquisa para viagens a Marte ou até encontrar água por lá, mas temos ainda neste planeta cerca de 2,4 bilhões de pessoas sem acesso a água tratada.

Será que os avanços tecnológicos estão fora dessa polarização?

O termo globalização é apenas um fruto do mercado financeiro, nada tem de humano em sua origem muito menos de interação, apenas internacionaliza os problemas sociais provenientes da exploração do trabalho. Vide a concentração de renda, em qualquer nível, nacional ou internacional.

A própria tecnologia é um exemplo dessa polarização proveniente da luta por modelos sociais mais inclusivos. Os aplicativos, em sua maioria, são desenvolvidos de modo que uma criança, mesmo analfabeta, consiga interagir (investem no diálogo por intuição). Faz parte da ciência a disputa por pesquisas mais voltadas a resolver os problemas da sociedade em detrimento daquelas que visam apenas a barganha em qualquer nível ou faceta.

A polarização é um problema?

Diante deste cenário de desigualdade e contradições as polarizações acontecem. A polarização traz a necessidade e oportunidade de dialogar, educar e politizar e este cenário é melhor que qualquer ceticismo ou omissão do diálogo. Nenhum destes dois impede a polarização, apenas o deixa solto rumo a barbárie (bastante nítida atualmente).

O ceticismo quanto a mudança política é algo a ser estudado, entendido e superado. Muito se investiu para que as pessoas banalizassem o coletivo, reforçassem o individualismo, tivessem a falsa ideia de que existem heróis (busca-se isso a cada capa de jornal ou revista) e a própria culpa ou demonização são protagonistas deste cenário, exatamente pela falta de diálogo (acarretando outros agravantes como educação e interpretação) buscam-se soluções simples como escolher entre o bem e o mal (ganha quem se intitula como bem primeiro).

As questões são complexas e exigem paciência, interação e muito diálogo para tirarmos conclusões. Isto não para o “avanço” daqueles que tem como certo a manutenção do status quo, o que aumenta mais o desgosto com o sistema político e financeiro falido que vivemos.

Sobre as eleições neste cenário?

O ceticismo não é o culpado de tudo, apenas é mais uma consequência do que vivenciamos.

Nos EUA tivemos 46,9% dos eleitores não votaram, 25,6% votaram na candidata democrata e 25,5% em Trump. Por se tratar de uma eleição indireta Trump saiu vencedor. Existe mesmo polarização nesta eleição? Temos que nos afastar do que a mídia e redes sociais parecem dar mais importância na divulgação. O que pensam os demais eleitores? o que querem? Possivelmente o perfil extremista de Trump abra esse diálogo com essa camada da população, do mesmo jeito que Obama logrou em sua primeira eleição (vide imagem).

Obama conseguiu levar mais pessoas a votar nas duas eleições que participou, mesmo assim tanto o partido democrata quanto republicano tiveram queda. O primeiro por desilusão com o governo Obama e o segundo pelos rachas que aconteceram internamente em ambos.

presidential

O fato central é que a população não aceita mais as soluções tradicionais. Criou desgosto tanto pelo governo quanto aqueles que faziam oposição. E neste novo cenário haverá uma nova polarização entre aqueles que não se dizem políticos mas mantem a ordem do dia e aqueles que querem um novo modelo social. Não devemos iludir-nos com a expectativa de um consenso ou cair em desmobilização (desânimo), devemos aprender com o processo e interagir socialmente (fora da rede) cada vez mais. O ceticismo e a falta de participação fará com que parcelas ainda menores decidam os rumos da sociedade. Neste último cenário, a falta de diálogo vencerá sua polarização com a empatia.

“No sentido moral é grande todo aquele que sacrifica sua vida pelo próximo” (Plekhanov)

Vídeos

Relatos pessoais

POR GUILHERME MELO

Vivemos numa época em que os verbos debater, discutir, deliberar, etc., são conjugados a todo momento. Há uma ânsia pela discussão, um desejo aprofundado pelo bate-boca. O que não há, em contrapartida, é zelo pela fundamentação, momentos de reflexão e consideração dos fatos. Ora, seriam os argumentos favoráveis ao fazimento de um acordo de paz na Colômbia tão proporcionais aos desfavoráveis? Seria a proposta de Hillary Clinton tão próxima a de Donald Trump? Não se trata apenas do empate técnico, pois votações unanimes, ao meu ver e na maioria das vezes, também significam incompreensão. Mas é o”pedra, papel e tesoura” de cada dia, sistematizado, sem critério e sem pesquisa, que ao invés de retratar fundamentados pontos de vista, ilustra descabidos pontos de partida. É onde o preconceito recebe suas correspondências. Mas pior: temos orgulho deste debate burro, quantitativo. Afinal, quem nunca ouviu a expressão “o gigante acordou”? Que a juventude atual está se interessando mais por política, ou que o índice de abstenção nas eleições dos Estados Unidos foi o menor dos últimos anos? O debate hodierno é hiperbólico, desordenado; a fundamentação: simbólica, equivocada. É tanto que se fala que se cospe; o interlocutor sequer percebe, pois de costas não sente o toque. Pecamos qualitativamente. Nascemos e não nos tornamos. Vir-a-ser é que nos falta, visto que o gigante pode ter acordado, mas deixou de estudar, ponderar, refletir e se tornar noite passada.

Conversas

Carolina Gioto
Opino que estamos em um tempo aonde as pessoas estão mais libertas e corajosas a se expressar sem medo das concecuencias. E com isso vemos aflorar sentimentos, opiniones e ações antes reprimidos e mascarados. Mesmo que esses sentimentos, opiniões e ações sejam muitas vezes sem informações e bom senso! Sinto que o mundo esta guspindo un monte de coisa que parece uma bagunça e extraño mas estão sendo enfim vistas e com isso analisadas para poder serem melhoradas! Sabe quando dizem mostre seu lado negro, para poder reconhecelo e assim mudalo? Creio que é algo assim. Pessoas são diferentes ende altamente divididas em suas opiniones mas o que antes era mais um “maria vai com as outras”, agora é penso assim e me reconheço nesse grupo e luto deste lado. Nosso dever seria se informar mais pelas verdades dos outro, não se englobar em uma só, escutar mais, para poder formar opiniones sem desrespeitar os outros. Admitir que ninguem tem a verdade absoluta e as conclusões deveriam ser tomadas depois de conversadas para o bem geral e majoritário! Beijo no coração.

Erica Fernandes
Tenho uma sugestão de leitura relevante ao tema: A análise de Leandro Karnal do livro A Servidão Voluntária. A quem nos entregamos quando conquistamos a liberdade: https://www.youtube.com/watch?v=V-ElmXSZTSc